Mais uma assinatura, e o ‘parto’, como o chamamos ao longo
dos últimos seis meses, estaria finalizado. Pelo menos por um tempo. Em dezembro outro parto faremos, mas por hora, esse é o que tenho a dizer.
As três cópias encadernadas foram devidamente entregues em papel envelope pardo. Enquanto aquela assinatura final marcava a parte direita do canto do papel, cenas dos últimos anos passavam pela minha cabeça. Desde o primeiro dia de aula, ainda indecisa, caminhando em direção ao auditório, me sentindo perdida frente ao mundo de conhecimento que estava à minha espera, até minutos antes, ainda na gráfica, observando a máquina imprimir página por página daquele trabalho.
As três cópias encadernadas foram devidamente entregues em papel envelope pardo. Enquanto aquela assinatura final marcava a parte direita do canto do papel, cenas dos últimos anos passavam pela minha cabeça. Desde o primeiro dia de aula, ainda indecisa, caminhando em direção ao auditório, me sentindo perdida frente ao mundo de conhecimento que estava à minha espera, até minutos antes, ainda na gráfica, observando a máquina imprimir página por página daquele trabalho.
Desses três anos, tenho muito que lembrar. Coisas boas,
inesquecíveis. O tipo de história que eu contaria para meus netos, como aquela
vez em que saí com o pessoal da faculdade para um tour pelo bairro da Liberdade.
Ou daquela vez que atropelei um poste e escorreguei na calçada, no momento mais
movimentado do dia. Lembro também de quando fomos ao MASP, ao Centro Cultural
de São Paulo, ao Ibirapuera, ao Parque da Independência. As aulas de teatro, as
oficinas, os simpósios e as apresentações. Inesquecível também nossas
sextas-feiras do pastel, que virou tradição. Não seria sexta-feira se a galera
não se reunisse e comesse pastel na feira. Outros momentos eu bem preferiria
esquecer. Para quê desenterrar coisas que não valem a pena lembrar? Quantas
discussões e desentendimentos bobos não tivemos ao longo desse tempo? Melhor
deixar para trás.
Mas o que mais gosto de lembrar - e dividir aqui com vocês –
é a riqueza , o conhecimento e a sabedoria que adquiri nesse período. E isso
não somente no que diz respeito ao jornalismo, mas toda a experiência, positiva
ou negativa, as relações, os valores éticos e morais, as desilusões... Aprendi que
ninguém está salvo do erro, que ninguém é perfeito e ninguém sabe tudo. Há
sempre algo a aprender. Aprendi que observar os mais velhos é a coisa mais
sábia que posso fazer. Aprendi também que não devo me calar, mas saber o
momento certo de falar. Também aprendi que tudo tem dois lados. Ou mais. Talvez
não haja uma verdade absoluta, mas há várias verdades, que podem nos fazer
chegar mais próximo da verdade mais pura. Aprendi que filosofia e matemática
tem tudo a ver com tudo. E quantas relações de poder (Foucault) em encontrei
por onde andei. Aprendi que não sou maior ou melhor que ninguém, não tenho
poderes nem varinha mágica, mas da mesma forma como posso aprender, também
posso ensinar. Aprendi que o mundo pode ser redondo, ou pode não ser. O que
importa mesmo é que descobri que ele não gira à minha volta. Aprendi a amar as
coisas simples e ver beleza no que pouco chama atenção. Aliás, aprendi a
diferença entre belo e beleza. Aprendi o que é arte e o que é ponto de vista. Aprendi
a pesquisar e também a argumentar. Aprendi e aprendi e aprendi e quanto mais eu
viver, mais poderei aprender.
E não teria aprendido nada disso, não fossem os professores
que jamais esquecerei. Afinal, quantas vidas vocês têm*? Eu tenho só uma e
quero vivê-la por completo. Quero experimentar aprender um idioma por ano*.
Quero fazer parte do projeto de Brasil*. Quero mensurar* meus próprios erros,
concluir vários projetos de pesquisa*, quero saber identificar a gestalt e o behaviorismo*, quero dar boas
risadas* com o que vale a pena. Teeeeenso*, mas também quero receber puxões de
orelha para o que deveria ser óbvio*. Ah, e esse parto foi apadrinhado. Pela
madrinha mais fofis*.
Não apenas no corpo docente, mas tantas pessoas incríveis que aqui encontrei. Alguns nomes foram substituídos por carinhosos apelidos. Outros
não tão carinhosos assim. Aliás, vários outros. Dá até pra formar um coral. Mas
chega de lero lero.
Hoje somos 12. A gota. Mas já fomos 13, 14... Acho que
chegamos a 17, em algum momento. Mas se eu fosse reuni-los aqui, passaria dos
50. Não somente jornalista do Engula Isso, mas futuros comunicólogos que trago no
lado esquerdo do peito. Alguns saíram. Outros apenas mudaram de horário. Mas
jamais deixaremos de ser colegas. Amigos. Irmãos. Dificuldades que enfrentamos
juntos, conquistas compartilhadas, risos trocados, palavras gentis e gestos de
carinho. Eu aprendi, com tudo que vivi aqui, com todas essas incríveis pessoas,
que o “essencial é invisível aos olhos” (SAINT-EXUPÉRY, pág. 38). Um dia eu os
agradecerei por tudo que vocês representam em minha vida. A gota. É o que
somos. E aos participantes desse parto,
parabéns e muito obrigado. Apesar de alguns deslizes e dificuldades, tivemos
lindos filhotes. E eles serão muito bem aceitos na pré-banca.
Lá se vai o último ponto da assinatura. O envelope está
sendo lacrado e entregue aos supervisores. Troca de olhares entre os pais.
Momento de tensão, aflição, loucura e paixão. Quase posso ver lágrimas rolar
por nossos olhos. Agora é só trabalhar. Assim como os pais trabalham duro para
verem seus filhos crescerem. Assim trabalharemos. Com tal afinco e prazer.
Assim conquistaremos. Assim seremos os melhores pais que poderíamos ser. Bem
vindo ao mundo, TCC.
*Frases clássicas que lembram alguns dos nossos professores:
”...quantas vidas vocês têm?” – Rovilson
“...idioma por ano” – Zamagna
“...projeto de Brasil” – Rodrigo
“mensurar” - Guaracy
“...projetos de pesquisa” – Helen Suzuki
“...gestalt e o behaviorismo” – Cleusa Sakamoto
“...boas risadas” - Caramez
“Teeeeenso” – Adriano Miranda
“...receber puxões de orelha para o deveria ser óbvio” – Wagner
Belmonte
“Pela madrinha mais fofis” – Lilian Crepaldi