
De tão egoísta, mostrei-me eternamente caçula na família, mesmo tendo uma irmã e primos mais novos. De tão egoísta, mostrei-me a melhor aluna da escola, daquelas a quem as professoras sentem falta quando o ano chega ao fim, cumprimentam nos corredores, mesmo depois de tantos anos e usam como exemplo para os demais alunos. De tão egoísta cresci obedecendo meus pais, para tornar-me seu orgulho e admiração, sobrepondo-me aos demais filhos.
Atuei durante vinte anos. Aos fracos mostrei-me forte, para que eu pudesse ser o centro de suas atenções. Aos fortes, mostrei-me fraca, para que estes se apiedassem de minha insignificante existência. Aos boêmios mostrei-me aventureira, para que estes me vissem com certo deslumbramento. Como construção de personalidade, mostrei-me culta, aos politicamente corretos. Aos cinéfilos mostrei-me critica extrema de clássicos e modernos filmes de nossa historia. Aos leitores, fui escritora sensível e criativa.
Fraude inútil e pouco interessante. Conquistei corações para com eles brincar. Arranhei a garganta do silêncio para fazer-lhe gritar meu nome aos mares. Todos os sete me ignoraram. Meu egoísmo foi inútil. Ainda assim insisti e declarei meu amor às pessoas boas. Egoísmo este meu que nem me permitiu compreender que cada uma delas possuía seus problemas, suas vidas, seus amores...

De tão egoísta, estou sozinha, num quarto que não é meu, numa cama dura, lençol fino, papéis rabiscados e roupas espalhadas pelo chão. De tão egoísta, reli todo o texto desta postagem inútil e percebi que me sobra egoísmo, me falta humildade.