Vê aquele lago?
Sua simetria é tão leve, águas claras
Não vejo profundeza, ou mistério, ou escuridão.
Você vê?
Não vejo tristeza, melancolia, ódio ou compaixão
É apenas um lago, com suas claras águas,
Fonte de inspiração à jovens escritores.
Outro dia eu estava observando este lago
E um romântico escritor apareceu.
Sentou-se ao meu lado e começou a escrever:
"Doce visão de um amargo lago,
Crava uma ferida enorme, tal sua profundidade,
Poço obscuro da minha solidão,
Guarda o mais triste dos amores.”
Em seu rosto, lágrimas caíam
Enquanto seus olhos fixavam os cisnes amantes.
Não vejo tais coisas, neste simples lago.
Observei atentamente, e nada.
Num segundo dia, observando o lago,
Um velho músico apareceu.
Compôs uma melodia e passou a cantar:
“Veja o lago, veja o lago
O lago dos cisnes, o lago dos amores.
Veja o lago e seu estrago
O lago que destruiu meu coração.”
Ali largou seu violão, e nunca mais voltou
Qual o segredo deste lago dos cisnes?
Eu não vejo, você vê?
Observei atentamente, e nada.
E então, vislumbrando este estranho lago,
Ela, cuja beleza não sou capaz de descrever, apareceu.
Sentou-se junto a mim, e em silêncio ficou.
Não escreveu versos de amor, nem compôs triste canção.
Apenas, como eu, observou.
Este lago é como o amor:
Só percebe sua profundeza, quem o sente.
Vê aquele lago?
Sua simetria é tão profunda, obscura.
Um amor impossível, enfeitiçado, na figura de um cisne.
Você vê?
Eu a amei, e ela se foi.
Lago misterioso, como este amor que senti
Amor que sempre sentirei.
Veja o lago e seu estrago:
Guarda o mais triste dos amores
