Há um caminho. E no caminho muitas curvas. E nas curvas o perigo. E no perigo o medo. E no medo a razão. Não sei há quanto tempo percor...

Meu Medo

Por | 00:44



Há um caminho. E no caminho muitas curvas. E nas curvas o perigo. E no perigo o medo. E no medo a razão.

Não sei há quanto tempo percorro esse caminho, nem por quanto tempo hei de percorrê-lo ainda. Mas avisto, ao além, a mais nobre premiação dos amores que trago no peito. Desventuras incompletas, sê-lo por fazer a mais certa.

Não trago nada além da verdadeira paixão. Eis minha coroação.




Desde criança eu escondo meus medos. Inflijo a lei da sinceridade e minto à mim mesma. O alto de um morro ou a janela do apartamento do último andar me davam vertigens. Mas eu não podia demonstrar. Pelo contrário. Fazia questão de subir à mais alta pedra do morro, ou sentar-me à beira da janela do último andar.
Enfrentava meus medos, como se fossem esses meros lampejos. Não admitia qualquer receio.
Havia, certa vez, uma cobra d'água no caminho do colégio. Em meus 7 anos mal poderia diferenciar essa de uma cascavel. Mas meus olhos arregalaram-se de fato, meus lábios secaram, meu coração de um salto disparou. Mas algo impulsionou-me a enfrentar aquele medo. Pisoteei o animal sem dó.
Ainda hoje não suporto o fato de sentir o medo e não enfrentá-lo. Uma de minha atividades favoritas é pegar o carro com os amigos e ultrapassar os limites de velocidade. Quão prazer sinto com o disparo do coração ao descer íngremes ladeiras, ao voar pelas curvas, ao transformar a leve brisa na mais forte ventania.

E todos meus medos foram efêmeros. Indignos de qualquer sacrifício. Até que conheci você...

Tenho medo de dizer 'oi', e não ser respondida.
Tenho medo de desejar 'boa noite' numa noite vazia.
Tenho medo de dizer 'bom dia' quando você não puder me ouvir.
Tenho medo de lhe estender a mão enquanto meus braços forem curtos para lhe alcançar.
Tenho medo de lhe pedir ajuda quando você não puder ajudar.
Tenho medo de querer agradar e acabar por ser inconveniente.
Tenho medo de falar, quando deveria escutar.
Tenho medo de esperar o que não poderá vir.
Tenho medo de desenhar uma imagem que não há como ser verdadeira.
Tenho medo de lhe oferecer o mundo e não possuir nem a metade.
Tenho medo de te carregar ao horizonte e descobrir que não há como voltar.
Tenho medo de que meu nome um dia seja substituído por outro qualquer.
Mas acima de tudo, tenho medo que tudo o que sinto por ti, que posso dizer é mais forte que qualquer outra sensação que eu já tenha experimentado, acabe um dia.

E esses medos, minha cara, não posso enfrentar.
Tantas vezes planejei o momento de te encontrar, mas uma lista de medos e receios caiu sobre minhas mãos, e qualquer impedimento serviu como desculpa para adiar esse momento.
Tantas vezes digitei um 'olá', ou um 'bom dia', mas meus dedos deletaram cada caractere com receio do que pudesse vir como resposta, ou pior, da ausência de resposta tua.
Tantas vezes escrevi poemas simples, como aqueles que escrevia aos 12 anos, mas apaguei com medo de ser mal interpretada ou parecer infantil demais.

E a ideia sempre surpreende ao perceber que o final é o mesmo do início. Voltas e voltas e um de meus medos, que se une agora ao medo de admitir, é saber que um dia posso eu sentir o mesmo por outra pessoa. Disso sim, tenho medo e não consigo impedir-me de senti-lo.
Você diz temer que meu amor seja apenas em palavras. Eu temo que você possa estar certa, algum dia. E isso me corrói a alma a cada segundo, pois, se não é amor, que é isso que sinto então?

Mas o que mais destrói meu coração, é saber que não sou a pessoa certa para você. E tanto tenho medo de um dia te magoar. Não suportaria ver nos teus olhos o sofrimento causado pelos meus. E tanto tenho medo e medo maior de enfrentá-lo, que lá no fundo sinto um alívio ao saber que outra pessoa lhe faz feliz. E por estar feliz com outra pessoa, sei que está protegida de mim, e assim poderei estar sempre com você, ao teu lado, mesmo não estando perto, pois o medo maior que possuo é de um dia te perder...
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