Imagem: Andreia Miranda - Papel Online  Fim de tarde, véspera de feriado. O terminal lotado de pessoas e malas: correndo de um lado par...

Abraço de despedida

Por | 10:39
Imagem: Andreia Miranda - Papel Online 
Fim de tarde, véspera de feriado. O terminal lotado de pessoas e malas: correndo de um lado para o outro, nas filas intermináveis dos guichês ou das lanchonetes, à espera de alguém que está para vir ou com quem está para partir. Muitos rostos emocionados. Outros, empolgados. Alguns tristes. Na maioria, um sorriso molhado. Tem os apressados, aqueles preocupados em não perder a viagem. E tem os que observam a vida acontecer naquele complexo rodoviário. 

Mentalmente tenho como companheira Maria Rita, interpretando Encontros e Despedidas, do amigo Milton Nascimento. 

Caminho até próximo de uma das paredes da rodoviária, onde há um quiosque da Chilli Beans. Melhor ponto de vista para quem espera aqueles que acessam pela saída do metrô. A qualquer instante meus amigos chegariam para integrar, junto a mim, o grupo dos que partem empolgados. 

Sentado em um dos bancos à minha esquerda, um senhor com camisa azul e bolsa pequena confere as passagens, forçando os olhos para a leitura naquele pequeno papel. A senhora de blusa marrom, provavelmente sua esposa, senta ao seu lado, oferecendo um saco pequeno de pão de queijo e indicando a marcação do horário no bilhete. Dois bancos atrás, quatro jovens planejam os próximos três dias do feriado como turistas no Rio de Janeiro.

Ali, perto de mim, um rapaz e duas moças param. Uma das garotas se despede do rapaz e continua em direção à plataforma. A outra, já com lágrimas nos olhos,abraça aquele que parece ser seu namorado. Ele retribui, envolvendo seus braços na garota e beijando carinhosamente sua testa. Um parece não querer sair dos braços do outro. Alheios à movimentação à sua volta, o casal chora em silêncio. O abraço todo se faz nesse silêncio. Se desgrudam por um instante, para olhar nos olhos um do outro. Ele segura seu rosto e diz, baixinho, que a ama. Ela diz que o ama também. Voltam ao abraço confortável. Ela, com a cabeça escondida no peito dele. Ele, beijando o alto da cabeça dela com carinho. "Eu nunca vou te esquecer", ele diz. Ela afirma com a cabeça, como quem não consegue dizer palavra alguma. Se beijam calmamente. As lágrimas ainda escorrem quando ela volta a abraçá-lo, ainda mais apertado. 

Pronto. Lá vai ela saindo de seu abraço em direção à plataforma onde a amiga já a esperava. Ele continua parado, ainda sentindo o quente dos seus lábios e o calor de seu abraço. Tenta secar as lágrimas com a manga comprida da camisa verde musgo. Olha para um lado, olha para outro, aparentemente desnorteado. Se volta para trás, de onde veio, e desaparece na multidão. 

Novamente sozinha, pude sentir a dor daquele abraço de despedida. E lembrei do meu.



Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial