"Difícil pedir bebida aqui, 'né'?", perguntou. Olhei para o lado. Sabia que havia alguém ali, mas não havia p...

"Deixei meu 'amor' na balada"

Por | 12:01


"Difícil pedir bebida aqui, 'né'?", perguntou. Olhei para o lado. Sabia que havia alguém ali, mas não havia percebido que era ele: o cara que chamou a minha atenção ao subir as escadas, vinte minutos antes. Desviei o olhar, ainda tímida, mas deixei que ele percebesse meu sorriso e, sem demonstrar muita importância, respondi que melhor assim, afinal poderíamos acreditar, com o grande número de pessoas interessadas, que a bebida era realmente boa. Ele riu. Concordou comigo. Perguntou o que eu iria beber. "Qualquer coisa com Jack Daniel's", respondi. Ele se ofereceu para pagar, mas mostrei o cartão brinde que eu tinha. Ele sorriu novamente e pediu que eu escolhesse a bebida para ele. "Que tal Sex On The Beach?", sugeri. "Sex On The Beach, por favor". Ele me agradeceu e esperou que o drink ficasse pronto. Sorri e deixei o balcão, com a minha bebida na mão. Estávamos no terceiro andar.

Enquanto descia as escadas, em direção à pista, onde meus amigos me esperavam, deparei com um deles, que me perguntou algo, mas não consegui entender, pois, na mesma hora, o rapaz do Sex On The Beach já havia me alcançado. "Já que você me sugeriu essa bebida, acho que devo dividir com você", disse ele. Meu amigo, nada discreto, olhou para mim e para minha nova companhia. Sorriu maliciosamente e continuou subindo os degraus. Experimentei a bebida, ainda que não gostasse de vodka, e ofereci a minha. Ele apreciou a escolha que eu fiz. As duas escolhas. Ou pelo menos foi simpático ao dizer que sim.

Descemos para o segundo piso e devolvemos a bebida um para o outro. Nossos olhares se comunicavam mais rápido que nossos lábios, mas por pouco tempo. Descansamos nossos copos em alguma mesa qualquer que encontramos no caminho e nos beijamos. Um beijo doce, misturado com whisky, vodka, laranja e maracujá. Pelo hálito agradável, logo pude perceber que o cigarro não é um de seus vícios. O que me deixou contente.

Ele falou, baixinho, ao meu ouvido: "gostei bastante de você". Dei-lhe um último beijo e me afastei, pedindo, com o olhar, desculpas pela mudança repentina no clima. Desci para a pista, último andar, esperançosa de perdê-lo por entre os milhares de dançarinos da agitada noite paulistana. Encontrei minhas amigas e juntei-me ao grupo com os passos da música eletrônica. Dois minutos depois ele passou por mim, agradeceu, não sei se pela indicação da bebida ou pelo beijo, e continuou a adentrar a pista de dança.

Minhas amigas olhavam-me curiosas. Pelo meu olhar, elas já sabiam o que havia acontecido. E nesse instante senti um leve arrependimento por tê-lo deixado na pista de cima. E então ele voltou, com a desculpa de que havia perdido os amigos. Perguntou o meu nome. Eu perguntei o dele. Lucas. 23 anos. Último semestre de engenharia civil. Não ouvi o nome da faculdade. Ele sorriu. Percebeu que eu já havia me distanciado de seu olhar. Disse adeus e se foi. Não o vi mais durante toda a noite.
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