Parei de voar. De repente me vi
sem asas lá do alto. Tarde demais para gritar por socorro. Não havia nuvens
para me segurarem. Não havia torres para eu agarrar. Não havia você aqui
embaixo, para me amparar. Eu estava lá... em queda livre.
E quanto mais eu me aproximava do
chão, mais as lembranças do ‘nós’ apareciam na minha frente: o dia em que te
conheci, a primeira vez em que você sentou-se à mesa do bar conosco, a
inesquecível conversa no MSN, o seu mau-humor nas primeiras férias, as perguntas
sem respostas, o modo como você entrou em minha vida, os passeios no shopping,
o meu vício em você, as mensagens de cinco em cinco segundos, os comentários
sobre nós, minha queda, as asas que você me deu, nosso primeiro beijo, nosso
namoro, o sentimento que foi crescendo e crescendo e crescendo...
‘Eu não
me vejo mais sem você’. É. Eu também não. E está sendo difícil. ‘A intenção era
você aproveitar para ficar completamente longe de mim. Sem sofrer’. Impossível.
Sinto dizer, mas não penso em outra forma pior de me fazer sofrer, no momento.
Para dizer bem a verdade, queria não ter te conhecido. Queria que você
continuasse sendo a pessoa estranha que muda de humor a cada segundo, a pessoa
que, por coincidência, estudasse no mesmo lugar que eu, que fizesse o mesmo curso
que eu. Nada mais. Nada além de meros conhecidos que se cruzam nos corredores e
dizem apenas ‘bom dia’. Eu mal sabia seu nome.
Hoje
sei seu nome. Seu telefone eu tenho de cor. As músicas que você gosta me
perseguem até em lojinhas de doces. Os filmes que você assiste passam em todos
os canais. Restaurantes, sobremesas, livros, canecas, jogos eletrônicos... tudo
me faz lembrar você. Impossível não pensar em você ao comprar um pacote de
balas de goma, ou quando coloco um pouco de pimenta na minha comida. Quase
posso ouvir você reclamar: ‘Para de comer isso! Vai te fazer mal’. Penso em
você quando me jogo no sofá. E também quando passo em frente a um sebo. Penso
em você quando meu celular toca. Uma nova mensagem, mas não tem seu nome. Penso
em você até quando os passarinhos cantam. Imagino que você os xingaria... se
estivesse aqui. Tudo me traz um pouco de você. Lágrimas de sangue. Quantas
vezes eu ri disso?
Nunca
fui tão verdadeira com uma pessoa, quanto sou com você. Nunca tirei a máscara
para ninguém, além de você. Nunca fui tão eu mesma, quanto fui com você. Ao
mesmo tempo nunca tive tanto medo de dizer certas palavras, quanto tive ao
estar com você. Porque, pela primeira vez, elas pareciam, de fato, fazer
sentido. Um sentido meio complexo, meio sem explicação, mas totalmente coerente,
dentro do meu coração. Você despertou em mim o verdadeiro, me manteve com os
pés no chão e ao mesmo tempo me deixou livre para voar com você. Agora você não
quer mais voar. Deixou-me sem asas e sem você...