Querida amiga Paçoca ,       É com grande peso no coração que lhe escrevo essa carta. Eu não precisaria escrevê-la, bastava lhe tel...

A nossa Trilha Sonora

Por | 22:09



Querida amiga Paçoca,

      É com grande peso no coração que lhe escrevo essa carta. Eu não precisaria escrevê-la, bastava lhe telefonar e combinarmos de tomar um sorvete em qualquer lugar perto de casa. Seria bom batermos aquele papo gostoso, comentando nossos delírios e devaneios da adolescência. Com tal distância, o que me resta é escrever-lhe para que saiba que jamais me esqueci de ti, e de nossa história. Lembranças? Tenho tantas. Boas ou más. O tempo atrapalha a memória, mas elas existem. As melhores aconteceram naquele ano. Você se lembra? Uma época em que o sorriso era dado à professora de Geografia, a melhor aula era a de Física, o armário era nosso livro de anotações, o quadro-negro era nosso mural de recados e a parede pichada... apenas boas lembranças! As músicas? Impossível escolher uma. Tão variadas, de folk a gotic metal, de rock a pop. Dias tão produtivos, momentos inocentes, incoerentes, internos! Foram tantas mudanças... mas a base era sempre a mesma: Você e Eu!

Não me esqueço do nosso primeiro passo:
“Oi, meu nome é Brilhante!”;
“O meu é Brincalhona!”;
“Brincalhona, junte-se a nós, enturme-se. Não há nada de interessante na janela!”...

      Eu observava aquela menina tímida, e pensava: “Mais uma nerdzinha no meio de tantos desocupados dessa escola”. Aos poucos a criança foi se enturmando, fazendo amizades, apertando laços, perdendo a timidez, criando raízes e de repente... eu percebi que a menininha alta havia crescido, que não era assim nerd e era uma ótima companhia. A música que nos embalava era “All About Us”. Tocava sempre naquele rádio que a professora de Educação Física nos emprestava. Depois adquirimos nosso próprio aparelho, colocávamos o CD e a Praça do BA se tornava palco de nossos micos! Aos poucos fui descobrindo que, diferentemente do que eu pensava no começo, estava no lugar certo, na hora certa, com as pessoas certas. Estava ditado pelo destino eu conhecer você. Estava escrito na areia nossos nomes, ligados pela palavra amizade.
      Infelizmente, o mar invadiu a praia e as ondas apagaram nossos nomes da areia. Por ‘problemas técnicos’, percebi que havia algo errado. Achei que fossem as pessoas, mas então percebi que era eu. Fui embora. Na época a isto demos o nome de ‘migrar’: “Bruna migrou pro lado oposto”. Sim, eu deixei de fazer parte da família que construímos, porque não me sentia à vontade ao lado de alguns membros. Mas achei o NOSSO lugar. O Ser nos aguardava, com as flores em uma das mãos e as pedras em outra. Quando me aproximei, mostrou-me as rosas, mas não me entregou. As pedras afastou, para que eu não as visse. Me sentia feliz ao lado dela. Mas não deixava de visitar ‘nosso lar’, para te ver, conversar contigo e matar as saudades. Foi em um desses momentos que aquela música tocou. Era uma bela canção. Era ideal, alegre, e nos lembrava de... foi então que ela apareceu. Nem precisou dizer nada. Nossos pensamentos se conciliaram, como se a gente tivesse o poder de ler pensamentos uma da outra. Foi mágico e inesquecível, foi um momento único, só nosso, incapaz de tornar-se entendido por outros. Idéias alinhadas, apenas a observamos, sem dizer uma palavra, sentimos o mesmo e pensamos o mesmo. E ela passou do nosso lado, ainda com as rosas na mão. Ela nos entregou as rosas, junto com seu coração.
      Estava traçada a linha mais bonita do destino. Sem percebermos, aquele foi o primeiro olhar de ‘cumplicidade’, que depois tanto fez parte de nós. Início do real, primeiro passo às cegas, a ponte para a maturidade com traços de crianças. A felicidade instantânea da simplicidade embalada pela canção “All The Things She Said”. Nossa trilha sonora foi tocando, as faixas foram passando, nosso baú de histórias foi crescendo, as frases marcando cada momento e a convivência exprimindo felicidade ao coração. Não apenas duas, mas três. Não apenas amigas, mas uma irmandade, um tripé forte e saudável. Inseparáveis. Tocava "Carolyna", a identificação do nosso Ser, e nas ruas caminhávamos ao som e coreografia de "Stop". Radicalmente, passamos a ouvir Alone e Energized, fazendo parte também do nosso Imaginário Mundo Real, que eu escrevi na conclusão do Ensino Médio. E então veio "Renaissance Fair" e derivados com o clipe da Angélica, e "Same Mistake" após a trama. Em semana, eram dias de curso técnico e vadiagem. Os fins de semana de curtição e camaradagem. Desabafos, conselhos, agrados. Tudo conforme tocava as canções. À essa altura já era o rastelo da Dido nos encantando. Até usamos a pobre da Katy falando sobre seu ‘novo’ gosto.
      O CD continuava tocando, mas tocou a canção "Back To Black", prestando atenção no que me dizia a letra da canção, percebi que o CD, assim como a nossa união, estava chegando ao fim. O paraíso mudou-se para outra estação. As folhas secas caíam ao chão. As rosas, tão bem tratadas, murcharam e tudo o que te sobrou foram os espinhos. Eu fiquei com as pedras. Jogadas em mim, nem tive força de construir meu castelo. Mas tinha você. E você tinha a mim. E as coisas voltaram ao começo, à base de tudo: você e eu, com a diferença de que nossos corações, já não eram mais tão imaturos.
Tudo o que passamos, fez de nós seres capazes de dizer Eu te amo, sem temer as opiniões de fora, sem querer saber por que as pessoas querem nos transformar, nos separar. Eu percebi que meu mundo não teria a mínima graça se não fosse você. E percebi que eu ainda não teria encontrado o caminho da felicidade, se você não tivesse pegado na minha mão e me conduzido, tratando de tirar do caminho aqueles espinhos que aquela rosa deixou espalhados por aí.
      Você, sem dúvida, é a minha irmã, meu anjo da guarda, minha ‘madrinha’, que faz parte da minha vida e que eu não quero, jamais, perder! Sinto a tua falta, e sei que sente a minha. Em um futuro bem próximo, estaremos juntas, como antigamente! E então ninguém, jamais, poderá dizer que não fomos feitas uma para a outra. A sua amizade só me faz bem. Hoje eu me lembro de você, sempre que ouço The Beatles, Pink Floyd, After Forever, Evanescence, Epica, e qualquer outra música de qualidade. Obrigada por fazer parte do meu dia-a-dia. Saudades imensas de quem te ama muito,



Geleka!


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