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Depois de inúmeros ensaios e desencontros, eis que finalmente possuo tempo para escrever-lhe a tão prometida carta virtual. Peço que me perdoe pela demora em apressar-te tua curiosidade quanto aos meus dias vulneráveis, efêmeros e felizes nesta imensa cidade cinza, a metrópole paulistana. Como sabes tenho por aqui uma difícil vida dividida pelo tempo entre trabalho, faculdade, mulheres e bebida. Tenho saudade extrema da nossa tranquila e pacata cidade, assim como tenho uma doce, porém ao mesmo tempo, amarga saudade de você. Não quero prolongar por mais tempo este ensaio sobre minha cegueira, queria apenas deixar-lhe mais curiosa e impaciente, então passemos direto ao ponto. Ou tentemos. (risos)
Meu coração ainda dói, quando penso naquele amor que me deixou, que por outra já suspira e vive este outro amor intensa e alegremente. Estou feliz por ela, acredite. Mas ainda possuo dentro de mim aquela egoísta esperança de que um dia ela voltará para mim. Não gosto desse meu sentimento, pois pensando assim desejo, interiormente, que ela se dê mal neste relacionamento e desejo mal à outra também. Para não mais pensar em tudo isso, ou desejar profundamente o mal de outra pessoa, aprendi, e ainda estou aprendendo, com imensa dificuldade, a refletir meus internos sentidos em boas causas e palavras bem ditas e benditas. Estou em processo de repelir a parte cinza de meu coração, parti-la em diversos fragmentos cristalinos e transformá-la em positividade refletida em meu ambiente de trabalho, de estudos, de vida amorosa, de vida calorosa e carpe diem. A poesia voltou aos meus ares. Aquela mesma poesia que me deixou em 2008.
Fiz um balanço de toda a minha vida e percebi que a maior mudança que passei não foi o processo de sair de casa e ter uma vida nova, completamente diferente, numa faculdade, com milhares de pessoas desconhecidas, na cidade de São Paulo. A maior mudança ocorreu em 2006. Sim, em 2006. Como você deve se lembrar, em 2005 eu senti pela primeira vez a sensação de nostalgia, de “meus amigos me deixaram e estou completamente sozinha”. Tenho vergonha disso. Aliás, tenho vergonha de todo este meu passado. Como eu pude ser amiga daquelas pessoas? Confiar nelas?
Wherever... em 2006 eu saí desta vida maligna e vergonhosa e descobri a verdadeira amizade ao teu lado. Pouco conversava com Manu, mas já possuía por ela esse amor fraterno em potencial. Foi o ano de minha libertação, de minha descoberta, de minha vontade de gritar quem sou aos quatro ventos. Orgulho GLBT!
Foi em 2007, precisamente, que comecei a descobrir o verdadeiro significado de amizade. Soubemos viver, soubemos compartilhar os melhores e também os piores momentos. O mundo inteiro podia rebelar-se contra nós, ou nós mesmas poderíamos nos rebelar contra o mundo inteiro, mas tínhamos umas às outras. Eu era feliz e não sabia. Sábias palavras da pessoa que as pronunciou pela primeira vez!
Conhecemos a Juliana. Natacha passou a fazer parte da ‘gangue’. “E o que há de novo nisso?”. Há todo esse sentimentalismo entregue no mais profundo e perfeito amor, dentro de nossos corações. Seremos eternamente uma união fraterna, um amor incondicional, uma felicidade extrema. Agora estamos todas distantes. Eu, em São Paulo, você no litoral, Manu no interior, Juliana em Marrocos e Natacha perdida com aqueles amigos idiotas. A Amanda nós perdemos há muito tempo... mas tenho certeza de que estamos ainda uma no coração da outra. Já não somos mais aquelas menininhas, já não somos adolescentes inconsequentes, de atitudes aborrecentes. Somos mulheres e mulheres bem sucedidas, à medida de nossos esforços e oportunidade. Somos mulheres que resolveram seguir caminhos diferentes, mas jamais distantes para nossos corações. Somos eu e você. E para sempre eu, você e elas. Elas, você e eu. Ela, ela, ela, e ela, eu e você. Inseparáveis ‘nós’.
Resumindo o que quero dizer-lhe nestes poucos sutis parágrafos acima, o que percebi, cara e amada amiga, é que fui moldada por estes laços que nos unem. Já não posso sem eles viver esta nova vida que aspiro. Preciso destes ares nossos mesmo que em pensamentos, e já não vivo um segundo sequer sem que me lembre de nossas tão amadas manhãs e finais de semanas em comunhão. Não é que eu viva em estado de nostalgia, mas percebi que me faz bem saber que, apesar de tantas desavenças e dificuldades que tenho passado na capital, há um lugar maravilhoso, gostoso, aconchegante, lindo, estonteante, de beleza pura e simplesmente perfeito. Este lugar é ali onde criamos nosso amor. Este lugar é aquela pontinha do céu com a mais linda nuvem. O vento pode desfazer esta nuvem. As tempestades podem desmanchá-la, mas ela sempre volta. E nós voltaremos. É isso que me move. A certeza de um futuro compartilhado com as melhores pessoas que já conheci.
Fiz aqui amigos leais, maravilhosos. Três em especial. Tenho certeza de que você os amaria, se os tivesse conhecido melhor. Aliás, tenho certeza de que você e a nossa família de nome europeu amará conhecer estes meus amigos daqui. Bianca, Tomás e Gabriel formam minha alma. E minha alma busca o reencontro com as de vocês. E então sim, poderei dizer que sou feliz como jamais poderia ser. Sou feliz, pois amo de verdade. E sou amada.
Sofri e confesso ainda sofrer um pouco por saber que meu amor não ama a mim, mas aprendi a repelir estes maus sentimentos dentro de mim, refletindo em minha alma as boas coisas que já vivi e que ainda tenho para viver. De certa forma, numa certa distância, foi essa família que construímos que ajudou meu coração a respirar sem dor. Sem muita dor. O ar poluído está se desmanchando para dar espaço ao ar mais puro de um coração quente. Obrigada, minha amiga. Obrigada por fazer parte de minha vida e me ensinar a viver.
Em suma, por saber agora que não é preciso sofrer para aprender, ou que já sofri o bastante que nem foi tanto assim, para carregar valiosa lição de felicidade, sinto-me completamente satisfeita com minha vida e feliz. Sinto-me de bem comigo mesma e agora sei que a minha felicidade depende de mim, única e exclusivamente. Depende de mim manter essa amizade que nasceu entre nós, esse amor que compartilhamos, nossas confianças, nossos segredos e paixões. Depende de mim garantir que isso jamais morrerá.
Minha felicidade se completa ao perceber que não é preciso eu correr atrás de amor algum, pois quando tiver que ser, ele aparecerá, assim, como um milagre. Depois que meu relacionamento terminou com a jornalista, me envolvi com a designer. Não fui feliz em nenhum dos términos. E mesmo assim unia-se a tristeza do término de uma, a tristeza do término com outra e a tristeza com a separação de minha verdadeira amada que há muito me deixou. Mas agora que sei que pensar em quem não pensa em nós é besteira, passei a pensar em mim mesma. Uma ponta enorme de um iceberg de orgulho e egoísmo tomou conta de mim. Não é egoísmo exagerado, mas o suficiente para eu amar a mim mesma e me descobrir como mulher, como pessoa de grande potencial afetivo e capaz de também ser amada. Não estou saindo com mais ninguém. As garotas com as quais eu sempre sonhei estão aos meus pés. E é tão bom esse gostinho de poder, essa sensação maravilhosa de dispensar paixões. Quanto mais eu dispenso, mais aparecem. É como um imã. Quando eu perceber que estou preparada para um relacionamento maduro, poderei então startar essa nova fase da minha vida.
Há uma publicitária, em meu caminho, que preenche meu retorno para casa de alegria. Ela é bonita e inteligente. Madura e astuta. Quer namorar comigo. Nada farei até ter a certeza de que nenhum coração sairá ferido. Há outra que me enche de mensagens amorosas, todos os dias. Sinto-me mais leve com cada palavra que ela me manda. Mas também não a vejo como futura senhora Gabriela Drummond, nem teria coragem de apenas ficar com a garota. Ela é perfeita demais para meus mimos. O passado voltou a assombrar meus dias. Rafa Castro (meu primeiro beijo) e Flávio Augusto (que se odeiam desde a infância e passaram a se odiar ainda mais depois de 2006, quando um passou a saber da existência do outro em minha vida), disputam minha atenção no Facebook, nos SMSs, no MSN e por e-mail. Algo me diz que ambos querem voltar. Ainda não sei. São apenas suposições, mas acho que é isso mesmo. Estou evitando ao máximo cruzar com a jornalista dos meus sonhos, mas ela insiste em ficar no meu caminho. Ela não mora mais aqui do lado, mas continua tentando me fazer ciúmes com o carinha por quem ela me deixou. É claro que já nem ligo mais, mas aquilo me incomoda. Há outros dois rapazes que insistem em querer minha atenção. Nem preciso dizer que jamais terão, não é? Há outra menina da faculdade também que é muito simpática e bonita. Está no último semestre. Confesso que sinto vontade de beijá-la, às vezes, mas não passa de uma efêmera vontade. Respiro fundo e logo passa.
É de grande valia este sentimento que me preenche o peito. Estou focada em meus estudos, em meus livros, meus poemas e blogs, minha vida profissional e meu ócio criativo, em minha família e estou focada então nessa família que as coincidências de uma escola comum uniu e nada mais pôde separar, nem mesmo a distância. Estou focada num brilhante futuro.
Estou, também, por ventura, beirando a loucura. Talvez aches graça desta carta. Mas é mais provável que arqueie uma de tuas sobrancelhas enquanto tenta entender o que aconteceu com aquela Gabriela, que está ainda mais complexa que antes. Ou talvez simplesmente não entenda nada que falei até aqui. Minhas ideias ainda estão embaralhadas, minhas palavras não são de vocabulário informal e tenho um nó nesta garganta sedenta, mas procurei escrever a verdade. E a verdade é que eu a amo, minha adorável amiga.