Foto: Bruna Sousa. Cibratel II - Itanhaém, 17/01/13 Houve um tempo em que a minha rotina era acordar às 6h30 da manhã, tomar b...
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Foto: Bruna Sousa. Cibratel II - Itanhaém, 17/01/13 |
Houve um tempo em que a minha rotina era acordar às 6h30 da manhã, tomar banho, engolir rapidamente o achocolatado, pegar a
bike e pedalar por 15 minutos até o colégio, no bairro vizinho. Durante o trajeto, sempre as mesmas pessoas: o velho jardineiro carregando, em sua
Calói vermelha enferrujada, o mal tratado cortador de grama; a moça da casa de ração que caminhava do lado errado da calçada, sempre com uma calça preta, camiseta em tons claros e sapatilha que combinava com os brincos e demais acessórios; o velho casal da rua de baixo, que sempre subia vagarosamente as duas quadras e eram os primeiros a comprarem o pão do estabelecimento que era bar, lanchonete, padaria, restaurante, mercadinho e ponto de encontro dos aposentados do bairro, aqueles típicos lugares pequenos que todo bairro tem; o bonitão trancava o portão da velha casa amarela, onde morava com a idosa mãe, e corria até a academia do outro bairro; no mesmo instante em que os carros começam a circular, e não eram muitos, cerca de 10 ou quinze em toda a avenida, o ônibus das 6h50 levava os estudantes para a aula das 7h; trensinhos carregavam as poucas pessoas do bairro para mais um dia de trabalho no centro da cidade. Já quase chegando na divisa dos bairros, encontrava ela: naturalmente loira dos olhos verdes, grandes e marcantes olhos verdes e, na época, estava com os cabelos avermelhados. Ela, uma de minhas melhores amigas.
Houve um tempo em que eu tinha duas melhores amigas. Não sei dizer se foi a melhor época da minha vida, mas, sem dúvida, inesquecível. Éramos inseparáveis. Conhecíamos uma a outra melhor do que a nós mesmas. Ríamos de modo sincero e espontâneo. Brincávamos de modo sério e divertido. Aqui não se encaixa a frase 'eu era feliz e não sabia'. Não, nós sabíamos sim. Nós aproveitávamos. Nós crescemos juntas, em muitos aspectos. Até que... nos separamos. E não por vontade própria, mas justamente por crescermos e seguirmos nosso caminho. Nos separamos e continuamos a crescer individualmente.
Houve um tempo em que eu gostava de estar em casa. Na frente dela haviam dois balanços. As madeiras pintadas de azul e vermelho se destacavam no meio do verde dos coqueirais. Os balanços eram na praia. A areia fresca e quentinha marcava nossas pegadas. Quatro ou seis. Hoje são apenas duas, as minhas. Hoje não há mais balanço. Apenas o horizonte e eu. Apenas o nascer do sol e eu. As ondas do mar me perguntam onde elas estão. Fico em silêncio. Poderia responder, mas permaneço em silêncio. Olho para o relógio: 6h55. Se eu correr, encontro o jardineiro, a moça da casa de ração, o velho casal da rua de baixo, o bonitão, os mesmos carros, o ônibus e o trensinho. Mas não a encontro. O sol já está no alto do céu, mas não deixa de ser deslumbrante seu reflexo em alto mar. Observo por mais de meia hora. São 7h37 da manhã de um novo dia, de um novo ano, de uma nova vida. Bom dia, Itanhaém.