Em um planeta
infectado pela relação supérflua e efêmera, nascem camaleões
A
geração que decente de bravos soldados, guerrilheiros em favor da liberdade,
que por sua vez são filhos de pacifistas que abrilhantaram os cadernos de
história com a incrível e lendária Woodstock... Cheios de viva, de força, de
vontade. Indivíduos de raça, de garra e sabedoria. Filhos da paixão à flor da
pele, que faziam questão de viver cada segundo, de alimentar a certeza dos
sentimentos mais profundos, que não tinham medo de gritar com a força do
coração para o mundo todo ouvir o ‘eu te amo’ à garota dos sonhos. Os Filhos da
Revolução hoje aprenderam a camuflar sentimentos.
“Oi, tudo bem?” –
“Tudo, e você?” – “Tudo bem”. “E aí, novidade?” – “Nenhuma. E vc?” – “Na
mesma”. “Você parece distante. Fiz algo pra te chatear?” – “Não é com você”.
Sinto dizer, mas o ‘tudo bem’ pode
esconder uma grande tristeza. A ‘nenhuma
novidade’ pode ser uma grave doença.
O ‘não é com você’, com toda a absoluta certeza, é com você e esconde uma
decepção.
Camuflamos
sentimentos desde que aprendemos a nos conectar com as pessoas através de uma
tela de computador. A sociedade da informação, a sociedade do conhecimento, a
sociedade do efêmero. Um modo frio de manter relações. Para excluir uma pessoa
da sua vida, basta o unfollow ou o block.
Acho
que me adaptei ao moderno modo de vida. Camuflo sentimentos. Digo que estou
bem, quando às vezes precisava dizer que não. Finjo que não há um problema me
afligindo se me perguntam se há alguma novidade. A única coisa que não faço é
embarcar no ‘não é com você, é comigo’.
Sim, é com você e eu faço questão de te contar isso, mas pessoalmente. De
resto, camuflo sentimentos.
Descobri,
recentemente, após uma longa conversa com uns amigos, que demonstro ser forte
aos olhos dos outros. Sempre tenho uma resposta pronta na ponta da língua. Se
surge algum problema, eu dou um jeito de resolver. Não como uma forma de varrer
para debaixo do tapete, mas como uma forma positiva de encontrar uma saída, uma
resolução. “Relaxa, vai dar tudo certo”,
eu costumo dizer, mas até quando vai esse otimismo? Um dia ele cai, assim como
eu. Temo que o dia em que eu cair, seja o dia em que eu menos precise de alguém
ao meu lado para me dizer “relaxa, vai
dar tudo certo”. No dia em que eu cair, temo que seja, talvez, para nunca
mais levantar.