Imagem: Bruna Sousa - Cibratel I, Itanhaém - 05/04/13 |
Você lembra o cenário do seu primeiro beijo? Consegue recordar o cheiro e o aspecto do ambiente? Consegue identificar se era primavera ou verão, se era outono ou inverno, se havia mais alguém ao redor? Foi em local fechado ou aberto? O momento foi banhado pelo sol ou pela lua? Ou será que estava chovendo? O meu primeiro beijo foi numa rua. Uma alameda larga. As casas eram de cumeeira, um aspecto característico do bairro. Muros e portões baixos, jardins frontais e garagens abertas e, no mínimo, duas árvores em cada propriedade. Essa rua ficava no bairro vizinho ao meu. Eu costumava passar por lá todos os dias, depois do colégio, na volta para casa.
Aquela rua foi palco de muitas peripécias da minha infância e descobertas da minha adolescência. Não apenas o meu primeiro beijo, mas o segundo, também. Naquela mesma rua, me apaixonei por um garoto e seu quarto dos sonhos. Naquela rua, também, levei o meu primeiro grande tombo de bicicleta. Bati a cabeça bem forte e perdi a consciência por alguns segundos. Também naquela rua tive a minha primeira briga com meu namorado. Fui assaltada, pela primeira vez, naquela rua. A primeira vez que peguei o carro para dirigir, também foi naquela rua. Meu primeiro choque com uma árvore aconteceu semanas depois, no mesmo lugar.
A alameda me viu crescer. Testemunhou muitos dos melhores e inesquecíveis momentos da minha vida. Sempre que eu estava triste e não queria ver ninguém, eu gostava de caminhar. A rua é paralela à praia. Eu ia pela areia e voltava pela alameda. Caminhava ouvindo música. A maioria, canções folk: Blackmore’s Night, The Corrs, KT Tunsdall, Bruce Springsteen, Neil Young, Janis Joplin, The Mamas and the Papas, Mumford and Sons e Bod Dylan. Sempre pareceu que eles cantavam as canções certas, no momento certo. O lugar certo era aquela rua. Inesquecível rua, que me ensinou a apreciar o folk rock, me incentivou a analisar cada nota de um acordeão, ou da guitarra, do violão, banjo... As músicas me acalmavam e, somadas ao lugar, eu me sentia, verdadeiramente, feliz.
Ainda sinto o cheiro dela. Cheiro de verde, de árvores, de bolo de aipim da tia da casa rosada, do café fresquinho do Seu Chico. Ainda sinto no rosto a brisa da rua, o barulho das folhas das árvores se balançando e os coqueiros do jardim principal chacoalhando seus longos galhos. Passei quatro anos longe daquela rua. Voltei para a minha pequena cidade, voltei para o meu bairro tranquilo, voltei a dar caminhadas vespertinas pela praia e passei por aquela rua. Caminhei com as mãos no bolso, pensando na vida e ouvindo Streets of Philadelphia, como antigamente...