Olhava para o céu vislumbrando a imensidão de uma noite estrelada. Sua mente viajava entre sonhos e planos sem que um toque qualquer pudesse despertá-la. Seria tarde demais implorar por um minuto de atenção? As lembranças de um desejo de futuro jamais existente permeavam por entre céus como lençóis de uma camada fina de sonhos. Delírios. Não haveria mais verdade naqueles desejos. Não haveria mais possibilidades. E então encontrou-se em meio a tantas dúvidas e uma outra verdade que nunca antes quis enxergar: coisas do destino.
Sim, talvez ele exista - ela pensou - Mas, se existe, porque encantar-me com planos que sabe que jamais poderei alcançar? - chorou.
Em desencanto um pranto de um futuro inacabado. Sonhos destruídos. Aquele som que um dia ela imaginou, talvez jamais seja tocado. O timbre de uma voz que nunca ouvirá. O brilho dos olhos que não encantará. As primeiras palavras, o primeiro passo, as primeiras vitórias e, por que não, as primeiras derrotas?
Talvez o destino, aquele que nunca antes havia existido para ela, zangado com total descompaixão e desprezo, tenha feito daqueles sonhos os planos que jamais existirão. E os planos, inacabados, riscados das linhas de um caderno invisível da vida, como um simples item da lista de supermercado, ou de uma tarefa no trabalho, não passam de meros exemplos de decepções de si mesma.
E ela apenas sonhava em ser mãe. Com frio na barriga ao imaginar como tudo seria.
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Como foi que aprendemos a sonhar? No manual dos sonhos? Certamente há um item que diz que qualquer sonho está susceptível ao engano, ao adiado ou ao impossível. Por que ignoramos tal item? Por que não conseguimos nos tornar aquela atriz famosa que sonhamos quando éramos crianças? Ou veterinária? Ou astronauta? Ou jogador de futebol? - São sonhos bobos de criança - você pode me responder. Ok, por que então não conseguimos o emprego dos sonhos depois de muito estudo, provas, enxaquecas e um diploma suado da faculdade? Por que a casa que desenhei em tantas folhas de papel na escola não existe?
Corro atrás de sonhar tantas coisas e esqueço de parar para realizar ao menos um pequeno desejo, aquele de infância que cresceu e me tomou por inteira. Desfocada, desabrigada de esperança d'um futuro bom, passo a viver apenas mais um dia. E este acaba por ser meu único sonho.