O que uma fábula representa à uma criança? Pinocchio ensinou sobre a importância de se falar a verdade, sempre. Os Três Porquinhos ensina...

A Eterna Guerra

Por | 19:46


O que uma fábula representa à uma criança? Pinocchio ensinou sobre a importância de se falar a verdade, sempre. Os Três Porquinhos ensinaram sobre o mal da preguiça. A Lebre e a Tartaruga falaram sobre como é ruim se gabar. Várias outras historias como essas servem de ensinamentos às nossas crianças. Tudo isso sempre esteve presente na infância de todos nós. Fazem parte dos pequenos detalhes que constroem o caráter de cada ser humano. São lições que carregamos para o resto da vida. Porem há muitas lições que só aprendemos apenas depois de errar e cair. Parece estranho, mas uma fábula que ouvi na minha infância só ganhou real significado para mim quando eu pensei que já não precisasse me espelhar nessas historias infantis.
Numa certa tarde de outono de 2007, fui à casa da minha amiga Marisa. Sentamos-nos na calçada de sua casa, como sempre fazíamos, encostadas no muro. Eu, uma aspirante à escritora e ela, uma aspirante à tecladista. Trocamos idéias, falamos sobre musicas, literatura, cinema, televisão, enfim, cultura em geral. É lógico que nossas preferências eram musica e cinema, mas nem preciso dizer. Até que ficamos em silêncio por uns instantes. Silêncio constrangedor. Era inacreditável a situação de que duas grandes amigas tão cheias de idéias pudessem ficar sem nada a dizer.
Comecei a observá-la e notei que ela estava “brincando” com formigas. Aquilo poderia ser um acontecimento comum no cotidiano de todos, mas para mim era o inicio de uma revelação. As formigas, que anteriormente estavam ordenadas numa espécie de fila indiana, pareciam que estavam no centro de uma guerra. E estavam. Elas lutavam. Precisavam encontrar o caminho, mas a mão da tecladista impedia as pobres e minúsculas criaturas a voltarem ao seu curso comum. Certamente, algumas daquelas formigas tiveram o seu fim naquele momento. Morreram esmagadas pela eterna guerra entre a Cigarra e a Formiga. As cigarras, que anteriormente tocavam violão agora podem tocar teclado, baixo, guitarra, banjo, flauta... As formigas, que antes trabalhavam, continuam na labuta diária em busca de sobrevivência, somente. A mão da tecladista tocava o solo do mesmo modo como costumava tocar seu teclado: suave, porém de maneira notável. Quando toca seu teclado, seus leves movimentos dos dedos transformam sons numa melodia. Ao tocar o chão, seu leve movimento dos dedos transformou um valioso trabalho num caos.
Ainda hoje existe a guerra entre cigarras e formigas. Há o desrespeito para com a natureza. Nós, jovens seres humanos que ainda não aprenderam a conviver com ela, destroem seu sistema e transformam a vida de tudo e de todos num caos. Aquecimento global, efeito estufa, buraco na camada de ozônio e matança, tudo fruto do egoísmo social. Somos cigarras de um mundo quase sem solução. E as formigas? São animais que não podem se proteger. Não digo que minha amiga estava errada. As formigas estavam protegendo suas vidas e ela estava protegendo seu espaço. É o ciclo da vida. ///

Bruna Sousa
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