No bar do China...
Eu a conheci numa mesa de bar. Com tantos amigos em comum, numa cidade tão pequena, seria quase impossível nunca nos encontrarmos em alguma mesa qualquer, ou, quem sabe, durante uma tarde de domingo na praia, ou talvez até na noite de carnaval, atrás do trio elétrico, com engraçadas fantasias. Poderíamos ter estudado juntas na escola ou em cursinho qualquer, ou poderíamos ter dividido o local de trabalho em determinado momento de nossas vidas, mas nos conhecemos numa mesa do bar do China, no meio da praça do centro da cidade. E esse detalhe torna tal história ainda mais interessante, pois não tínhamos nada em comum além dos amigos e do prazer em dividir uma cerveja gelada.
Eu já conhecia boa parte da mesa e costumava parar para cumprimenta-los, sempre que passava por lá no sábado à noite. “Senta aí”, disseram. E sentei-me bem à frente da única pessoa para quem ainda não havia sido apresentada. Ela me cumprimentou e disse seu nome. Respondi ao cumprimento e disse o meu. Em poucos minutos, já estávamos rindo, com o restante da mesa, como se nos conhecêssemos há anos, por causa de uma aposta que resultou em algo inesperado. “Fui renegada”, disse ela, a respeito do castigo dado para quem perdesse a aposta.
Por um bom tempo, éramos apenas duas garotas que tinham amigos em comum e vez ou outra se encontravam na mesa da praça. Três anos depois de dividirmos a mesa pela primeira vez, ela anotou o número do meu celular e eu o dela. As primeiras mensagens trocadas consistiam em: “Vai sair hoje?”. Com o tempo evoluímos nossa conversa para “Oi, tudo bem?” e “Quais as novidades?”. Visitas no meio do expediente, desabafos e relatos dos nossos últimos dez anos.
Coincidência ou não, nossas vidas caminhavam de forma parecida. Se antes tínhamos os amigos em comum, de repente nos vimos tendo em comum a falta de amigos: por um tempo eu perdi meus melhores amigos e ela, os dela. Além disso, enfrentávamos outro problema bem parecido: nossas relações amorosas também haviam se perdido. Para aumentar um pouco nossa lista de itens em comum, compartilhávamos do mesmo sentimento de ‘cansei dessa cidade’.
Frases, pensamentos, conselhos e memórias... que partilhamos e compartilhamos. Ela se tornou uma parte bonita e importante da minha história. Se eu não caí, foi por causa dela, que estava lá para me segurar e me ajudar a levantar. Graças a ela me empenhei em escrever, a única coisa que me faz realmente bem. Foi uma grande terapia, para mim. Ela me aconselhou a rever os meus passos, a completar o que ficou inacabado em minha vida, a não desistir nunca do que me faz feliz. Basta passar uma tarde trocando mensagens com ela ou fazer uma breve visita, e já me sinto mais leve e alegre. E, apesar de todos os bolos que lhe dei, e imagino o quanto ela está moralmente obesa com isso, sei que esse carinho que sinto por ela é recíproco. Nunca serei capaz de lhe agradecer à altura por ser tão especial, mas ainda sim, humildemente, lhe agradeço por tudo, Broto...