“Eu te amo”, ela disse, ainda trêmula, entre soluços, sem a convicção de que aquele era o momento certo. E, de fato, não era. ...

"Eu te amo"

Por | 09:21
“Eu te amo”, ela disse, ainda trêmula, entre soluços, sem a convicção de que aquele era o momento certo. E, de fato, não era.

A frase saiu como um canto em sustenido: difícil, triste e doído. Dor sentida não apenas pelo cantor, mas também pelo ouvinte. Uma ópera italiana clássica, assistida em companhia do vinho mais seco.

Tais palavras, ditas com veemência e nesta ordem para alguém por quem se apaixonou, eram inéditas nos lábios da garota. Uma ópera em que ela deixou de ser plateia para ser protagonista.

Meio segundo após pronunciar, um calafrio de arrependimento invadiu sua alma. Não por achar que tal sentimento era fraco ou irreal, mas por ter, agora, a tal convicção que procurou segundos antes: não era o momento oportuno. E a certeza esteve revelada pelos olhos do interlocutor. Aquelas palavras o atingiram. Se de forma positiva ou negativa, nem ele poderia dizer.

Eis a magia da ópera: encanta, mexe com a alma, imersa os envolvidos à verdade dos sentimentos mais profundos... e machuca.

Dois segundos em silêncio e um turbilhão de imagens invadiam aquelas mentes: lembranças de um passado não tão distante, bom e [quase] perfeito: um mundo paralelo.

Não esperava um ‘eu te amo também’, mas desejava ardentemente um sorriso que dissesse por si só, um abraço quente e aconchegante, ou apenas a retribuição plena e satisfatória do carinho representado pelo terno e encantador olhar.

Reprodução: Madame Butterfly, de Giacomo Puccini
Porém a nota aguda sufocou a solista em bel canto, um Puccini linda e tragicamente interpretado pela vida real. O lírico, por fim, recebeu a resposta que tanto temia: “os sentimentos mudam”.


A ópera da sua vida nunca mais foi a mesma. 



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