“Eu te amo”, ela disse,
ainda trêmula, entre soluços, sem a convicção de que aquele era o momento
certo. E, de fato, não era.
A frase saiu como um
canto em sustenido: difícil, triste e doído. Dor sentida não apenas pelo
cantor, mas também pelo ouvinte. Uma ópera italiana clássica, assistida em
companhia do vinho mais seco.
Tais palavras, ditas com
veemência e nesta ordem para alguém por quem se apaixonou, eram inéditas nos
lábios da garota. Uma ópera em que ela deixou de ser plateia para ser
protagonista.
Meio segundo após pronunciar,
um calafrio de arrependimento invadiu sua alma. Não por achar que tal
sentimento era fraco ou irreal, mas por ter, agora, a tal convicção que procurou
segundos antes: não era o momento oportuno. E a certeza esteve revelada pelos
olhos do interlocutor. Aquelas palavras o atingiram. Se de forma positiva ou
negativa, nem ele poderia dizer.
Eis a magia da ópera:
encanta, mexe com a alma, imersa os envolvidos à verdade dos sentimentos mais
profundos... e machuca.
Dois segundos em
silêncio e um turbilhão de imagens invadiam aquelas mentes: lembranças de um
passado não tão distante, bom e [quase] perfeito: um mundo paralelo.
Não esperava um ‘eu te
amo também’, mas desejava ardentemente um sorriso que dissesse por si só, um
abraço quente e aconchegante, ou apenas a retribuição plena e satisfatória do
carinho representado pelo terno e encantador olhar.
Reprodução: Madame Butterfly, de Giacomo Puccini |
A ópera da sua vida
nunca mais foi a mesma.