Estação Brás da CPTM - Fotografia: Bruna Sousa |
As nossas vidas são como estações de trem: as pessoas entram, saem, algumas voltam, outras nunca mais aparecem, às vezes é movimentado, às vezes permanece calmo e o mundo continua a girar. Foi numa manhã qualquer que a estação da minha vida recebeu uma visita que não sei se algum dia voltará, mas que, com toda a certeza, foi das mais lindas que já passou por aqui.
Eu estaria mentindo se dissesse que lembro de quando nos conhecemos. Não lembro. Só sei que nos víamos todos os dias, naquela sala de aula. Também não me lembro quando foi que tivemos o primeiro contato, que trocamos as primeiras palavras, mas eu sabia o seu nome e você, o meu. De repente estávamos numa mesma turma de passeio, numa mesma mesa de bar, nas mesmas fotografias, num mesmo grupo de amigo secreto. E secretas ficaram as confidências que fomos trocando, conforme nossa amizade ia tomando forma.
De repente estávamos fazendo todos os trabalhos juntos. E tirando nota máxima em tudo. Estávamos trocando e-mails todos os dias. Sabíamos dos nossos passos, novos romances, novas amizades. De repente estávamos passeando pelo Bixiga, visitando cantinas italianas, tirando fotos históricas, criando nossas próprias lendas, fugindo no paparazzi enquanto dávamos uns ‘pegas’ de mentirinha no estacionamento da faculdade. De repente eu estava te chamando de Bichim de Pelúcia e você me chamava de Brush (praticamente foi você quem me apelidou assim).
De repente essa manhã linda na estação de trem da minha vida foi chegando ao fim. O entardecer veio trazer o distanciamento e então você anunciou a hora da partida. Você estava desistindo. Nunca te perdoei por isso. Meu cronista super herói, que passa longe de ser um escritor frustrado, humorista sem graça e amigo ausente, não poderia desistir jamais. E eu chorei feito criança com a sua última crônica. Uma despedida ingrata. De repente as lágrimas trouxeram o anoitecer.
De repente, na escuridão, já não te enxergava mais. E as portas do trem estavam se fechando. Não havia mais trabalhos, nem troca de e-mails, nem passeios ou cantinas italianas ou fotografias, nem lendas, nem estacionamento. De repente meu Bixim de Pelúcia, o amigo que mais amei em toda a minha vida, seguiu para a próxima estação. E, sufocada, sinto a sua falta... como quem sente falta do ar, como quem tem sede, como quem tem fome, como quem tem nas costas o peso do mundo. Eu ainda estou na mesma plataforma, observando todos os passantes, na esperança de que, talvez um dia, o amigo cronista chato mais legal que já tive passe para me dar um ‘oi’.