Capa do livro - Divulgação |
A cultura do Oriente médio chega a chocar os povos ocidentais. Num exemplo extremo, fere os princípios do feminismo. Os homens, que podem ter até quatro esposas, são machistas e se colocam à frente de qualquer decisão. As mulheres não têm voz, são subordinadas dos caprichos de seus pais ou maridos. É considerada de pouca sorte a família que tem como primogênito uma filha mulher. Quase todos os casamentos são arranjados. É neste cenário que encontramos Mariam e Laila, mulheres afegãs com sofridas trajetórias de vidas que se cruzam em Cabul. A guerra, a violência e o poder do homem sobre a mulher são fortes temas abordados pelo autor do best-seller O caçador de pipas, Khaled Hosseini, no livro A Cidade do Sol. "É isso que a vida reserva para nós, Mariam” - disse a mãe da menina – “E suportamos, temos que suportar”. Um estilo de vida ou um fardo?
Mariam é filha bastarda do patrão com sua empregada. Para fugir da humilhação pública, Kalil mandou Nana e o bebê para uma cabana isolada. Por quinze anos foi o pai atencioso e carinhoso, indo visita-la uma vez por semana. Mariam o amava, mas então percebeu que sua existência era vergonha deste rico homem. Com a morte da mãe, causada pelo desgosto, a jovem Mariam teve de se casar com o sapateiro Rashid, com mais que o dobro de sua idade, e foi com ele para Cabul. Rashid, calejado pelas trágicas perdas da primeira esposa e do primeiro filho, anseava outro herdeiro, mas, após sete tentativas frustradas, tornou-se a vergonha também do marido, alcançando sua indiferença.
Laila nasceu de uma família de classe média, que a guerra destruiu. Sem ter para onde ir, casou-se com Rashid, marido de Mariam. Vivendo sob opressão, tanto do marido quanto da sociedade talibã, Laila e Mariam criam forte laço, como mãe e filha, cúmplices, companheiras, de carinho e extremo amor uma pela outra. A jovem Laila, de uma geração posterior à de Mariam, encontra em seu amigo de infância um amante. A história se desenrola nesse misto de amor e ódio, em vidas cruzadas pelo destino.
Apesar de ser narrado em terceira pessoa, o livro conta a história segundo as visões das protagonistas Laila e Mariam, seus pensamentos, devaneios, aspirações e medos. O leitor sente que o autor pretende passar em cada frase, por ser real, por retratar as dificuldades das mulheres do Oriente Médio, a ideia de a mulher servir ao marido e gerar filhos, sem qualquer outro significado especial para sua existência. “Rashid tinha mudado desde aquele dia na casa de banhos. Às vezes, aparecia no meio da noite para fazer sexo. Tudo acontecia rapidamente e, nos últimos tempos, de forma brutal. Andava emburrado, achava defeitos na comida, queixava-se da bagunça no quintal e reclamava da mínima sujeira na casa”. Assim era a rotina após um dos abortos de Mariam.
O livro narra o contexto histórico da guerra do Afeganistão e vários problemas políticos enfrentados pela população dos anos 60 em diante, face às dificuldades das duas mulheres. “Durante o trajeto, viram casas de barro com telhados de sapê e campos pontilhados de feixes de trigo. Aqui e ali, naqueles campos poeirentos, Laila podia ver as tendas pretas dos nômades Kuchi. E, vira e mexe, carcaças queimadas de tanques soviéticos e helicópteros destroçados".
Guerra no país e guerra das duas mulheres contra o país, este pode ser o resumo do livro em uma linha.
Khaled Hosseini, autor da obra, tornou-se renomado escritor ao publicar O Caçador de Pipas, em 2003, com mais de 8 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo. A Cidade do Sol foi considerado, segundo alguns sites, o segundo livro mais vendido de 2007/2008. As duas obras são fortes leituras, ambientadas no Afeganistão, com temáticas pesadas, porém prazerosas. Se lágrimas rolarem, junto ao ódio e compaixão, valerão cada momento.
A cidade do Sol, de Khaled Hosseini, 2007
Editora Nova Fronteira, 363 páginas – 7ª impressão
Tradução: Maria Helena Rouanet – Rio de Janeiro
Título original: A Thousand Splendid Suns